Transexual do interior de PE foge da marginalização e busca melhores condições de vida
A beleza da alma e do corpo vai além de qualquer preconceito
Ry Souza, 25 anos, transexual
assumida e moradora de Lajedo, nasceu menino e com a puberdade tornou-se
mulher. Na adolescência começou a vestir-se com roupas femininas e essa escolha
lhe trouxe consequências. Na escola, na rua e em casa era vítima do preconceito,
porém não se importava muito com a opinião alheia, queria independência e
liberdade para fazer aquilo que achasse melhor. Atualmente trabalha vendendo
cosméticos, fazendo maquiagens e trata todos como iguais, conquistando respeito
e espaço.
A Declaração
Universal dos Direitos do Homem, no artigo 1º, informa que “todos os seres
humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos”.E pela
Constituição Federal, no artigo 5º, diz “todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Isso no papel, na
prática é totalmente diferente. Por acaso você já viu um travesti ou transexual
como vendedor(a) em um loja? Foi atendido(a) por um(a) médico(a), advogado(a),
teve um(a) professor(a) ou amigo(a) transexual? A maioria responderá que não,
isso porque infelizmente eles não ocupam esses papéis, não é pelo desinteresse
e sim pelo preconceito que sofrem, as portas se fecham.
Transgênero refere-se à condição onde a expressão de gênero e/ou identidade de gênero de uma pessoa é diferente daquelas atribuídas ao
sexo biológico. Segundo Anderson Freire – Sexólogo e professor universitário,
podemos definir transexuais e travestis destas formas:
“O transexual não aceita sua condição
biológica, se for homem, não reconhece o órgão genital (pênis) como pertencente
ao seu corpo. Essa rejeição remete invariavelmente à identidade de gênero
enquanto feminino e masculino, havendo um reconhecimento de sua identidade de
gênero”.
“O travesti já tem outra perspectiva,
ele tem a perspectiva da vestimenta feminina e não necessariamente queira ser
uma mulher, o ideal do travesti e o que chamamos de mulher fálica. É a surpresa
que se tem ao levantar esse vestido e ver que invés de uma vagina ali tem um
pênis. Isso associado à ideia de poder, o pênis significa poder numa sociedade
machista”.
Os transgêneros talvez sejam os que
mais sofram com o preconceito, porque os homossexuais se vestem de forma padrão
e cada vez mais ocupam cargos importantes na sociedade enquanto os demais vivem
na marginalidade. Desenvolver habilidades para ganhar dinheiro e sobreviver é
apenas uma das formas de escapar do desemprego, alguns acabam trabalhando de forma ilegal, se envolvem com as drogas ou
se tornam profissionais do sexo, função que equivocadamente as pessoas em geral
já os definem, quase como um sinônimo, quando na verdade trata-se da última
opção para a maioria.
“Graças a Deus,
nunca fiz programa, por mais dificuldade que passei. Até porque tive a sorte de
encontrar amigas para indicar trabalho e se chegasse ao extremo me dariam
comida. Eu não digo o dia de amanhã, mas o que eu puder fazer para evitar
chegar a isso, farei”, conta Ry Souza.
Os desinformados
resumem-os ao corpo e à vontade de se relacionarem com alguém do mesmo sexo,
pela forma de vestirem, agirem e se comportarem. A aparência e as escolhas
íntimas e pessoais de alguém definem a qualidade de um profissional, de um bom
filho, de um cidadão ou cidadã? Seres humanos são complexos, de diferentes intenções,
sonhos, valores e histórias. Como qualquer outro Ry Souza deseja ter uma vida
plena e feliz, planeja no futuro ser mais feminina e fará procedimentos
cirúrgicos. “Um dia sim, desejo fazer a mudança de sexo, agora não é a hora,
tenho que reajustar a minha vida inteira pra poder chegar nesse estágio”.
O desconhecimento da
diversidade mais comportamentos machistas como a homofobia e transfobia
promovem a intolerância no Brasil, os que são ditos como ‘anormais’ são
xingados, espancados e até assassinados pelos preconceituosos. De acordo com a ONG internacional Transgender Europe (transgêneros
europeus) o Brasil lidera
número de mortes de travestis e transexuais. Entre janeiro de 2008 e abril de
2013 foram 486 mortos, quatro vezes a mais que no México, segundo país com mais
casos registrados. Atualmente, 40% da população mundial ainda vivem em um dos 81 países
onde a homossexualidade é criminalizada, incluindo 11 que carregam a pena de
morte. Mais de 1.500 assassinatos de pessoas
transexuais foram oficialmente notificados nos últimos 6 anos, no mundo
inteiro.
A aceitação vem aos
poucos, exemplo disso, na edição 2014 do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)
é possível que os candidatos travestis ou
transexuais usem o nome social para fazer a prova do exame. Nome social é o
nome pelo qual pessoas com disforia de gênero (desconforto
persistente com o próprio gênero e por um sentimento de inadequação no papel
social deste gênero, causando sofrimento e prejuízo no funcionamento familiar,
social, amoroso, acadêmico e/ou profissional) preferem ser chamadas cotidianamente, em contraste
com o nome oficialmente registrado que não reflete sua identidade de gênero. Querem ser
respeitados assim como respeitam.