14 de junho de 2014

Transgêneros são vítimas da desinformação

Transexual do interior de PE foge da marginalização e busca melhores condições de vida


A beleza da alma e do corpo vai além de qualquer preconceito

Ry Souza, 25 anos, transexual assumida e moradora de Lajedo, nasceu menino e com a puberdade tornou-se mulher. Na adolescência começou a vestir-se com roupas femininas e essa escolha lhe trouxe consequências. Na escola, na rua e em casa era vítima do preconceito, porém não se importava muito com a opinião alheia, queria independência e liberdade para fazer aquilo que achasse melhor. Atualmente trabalha vendendo cosméticos, fazendo maquiagens e trata todos como iguais, conquistando respeito e espaço.

Declaração Universal dos Direitos do Homem, no artigo 1º, informa que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos”.E pela Constituição Federal, no artigo 5º, diz “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.

Isso no papel, na prática é totalmente diferente. Por acaso você já viu um travesti ou transexual como vendedor(a) em um loja? Foi atendido(a) por um(a) médico(a), advogado(a), teve um(a) professor(a) ou amigo(a) transexual? A maioria responderá que não, isso porque infelizmente eles não ocupam esses papéis, não é pelo desinteresse e sim pelo preconceito que sofrem, as portas se fecham.

Transgênero refere-se à condição onde a expressão de gênero e/ou identidade de gênero de uma pessoa é diferente daquelas atribuídas ao sexo biológico. Segundo Anderson Freire – Sexólogo e professor universitário, podemos definir transexuais e travestis destas formas:

“O transexual não aceita sua condição biológica, se for homem, não reconhece o órgão genital (pênis) como pertencente ao seu corpo. Essa rejeição remete invariavelmente à identidade de gênero enquanto feminino e masculino, havendo um reconhecimento de sua identidade de gênero”.

“O travesti já tem outra perspectiva, ele tem a perspectiva da vestimenta feminina e não necessariamente queira ser uma mulher, o ideal do travesti e o que chamamos de mulher fálica. É a surpresa que se tem ao levantar esse vestido e ver que invés de uma vagina ali tem um pênis. Isso associado à ideia de poder, o pênis significa poder numa sociedade machista”.

Os transgêneros talvez sejam os que mais sofram com o preconceito, porque os homossexuais se vestem de forma padrão e cada vez mais ocupam cargos importantes na sociedade enquanto os demais vivem na marginalidade. Desenvolver habilidades para ganhar dinheiro e sobreviver é apenas uma das formas de escapar do desemprego, alguns acabam trabalhando de forma ilegal, se envolvem com as drogas ou se tornam profissionais do sexo, função que equivocadamente as pessoas em geral já os definem, quase como um sinônimo, quando na verdade trata-se da última opção para a maioria.

“Graças a Deus, nunca fiz programa, por mais dificuldade que passei. Até porque tive a sorte de encontrar amigas para indicar trabalho e se chegasse ao extremo me dariam comida. Eu não digo o dia de amanhã, mas o que eu puder fazer para evitar chegar a isso, farei”, conta Ry Souza.

Comunidade LGBT (LésbicasGaysBissexuaisTravestisTransexuais e Transgêneros

Os desinformados resumem-os ao corpo e à vontade de se relacionarem com alguém do mesmo sexo, pela forma de vestirem, agirem e se comportarem. A aparência e as escolhas íntimas e pessoais de alguém definem a qualidade de um profissional, de um bom filho, de um cidadão ou cidadã? Seres humanos são complexos, de diferentes intenções, sonhos, valores e histórias. Como qualquer outro Ry Souza deseja ter uma vida plena e feliz, planeja no futuro ser mais feminina e fará procedimentos cirúrgicos. “Um dia sim, desejo fazer a mudança de sexo, agora não é a hora, tenho que reajustar a minha vida inteira pra poder chegar nesse estágio”.

O desconhecimento da diversidade mais comportamentos machistas como a homofobia e transfobia promovem a intolerância no Brasil, os que são ditos como ‘anormais’ são xingados, espancados e até assassinados pelos preconceituosos. De acordo com a ONG internacional Transgender Europe (transgêneros europeus) o Brasil lidera número de mortes de travestis e transexuais. Entre janeiro de 2008 e abril de 2013 foram 486 mortos, quatro vezes a mais que no México, segundo país com mais casos registrados. Atualmente, 40% da população mundial ainda vivem em um dos 81 países onde a homossexualidade é criminalizada, incluindo 11 que carregam a pena de morte. Mais de 1.500 assassinatos de pessoas transexuais foram oficialmente notificados nos últimos 6 anos, no mundo inteiro.


A aceitação vem aos poucos, exemplo disso, na edição 2014 do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é possível que os candidatos travestis ou transexuais usem o nome social para fazer a prova do exame. Nome social é o nome pelo qual pessoas com disforia de gênero (desconforto persistente com o próprio gênero e por um sentimento de inadequação no papel social deste gênero, causando sofrimento e prejuízo no funcionamento familiar, social, amoroso, acadêmico e/ou profissional) preferem ser chamadas cotidianamente, em contraste com o nome oficialmente registrado que não reflete sua identidade de gênero. Querem ser respeitados assim como respeitam.